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20 de agosto de 2007

Da sua janela
Uma vaga estrela
E um pedaço de lua
E ela vai talvez
Sair outra vez
Na rua
Chico Buarque

São tantos os sons que ouvimos pela janela, que as vezes a janela para mim serve mais como um meio de audição do que de visão. As imagens que por ela vejo, são inúmeras. Mas nenhuma delas chamam mais a minha atenção do que os ruídos que ela me traz. Correntes se arrastando no chão, veículos em alta velocidade, vozes boêmias, gota da chuva, folhas no chão.
As vezes avisto cenas engraçadas, outras, assustadoras. Por horas avisto pessoas, por dias sinto a solidão.
Nem mesmo a paz do silêncio, que deveria trazer o sossego do lar, me faz sentir a paz esperada.
No momento da desordem ocasionada pelo tráfego de veículos, busco o silêncio. No silêncio, busco o ruído.
Pela janela avisto a lua, as estrelas, as nuvens escuras. O céu nublado de uma noite de outono, fresca, serena e ao mesmo tempo, perturbadora. Porque o inferno não é um local específico que religiosos acreditam existir. O inferno é um estado de espírito que pode te acompanhar para onde quer que você vá.
Tenho fé, força e luto. Mas as vezes, nem o céu que avisto pela janela, me faz acalmar. Por dias, nem mesmo as cintilantes estrelas, ou aquela imensa lua, recheada de luz, conseguem me sentir em paz, pela janela. Então olho para dentro da janela, de onde estou e para onde vou. Procuro ajeitar as coisas e sentir-me satisfeita com o que tenho a oferecer para mim mesma. Sem lamentações, sem desespero emocional. E enfrento mais um dia, os mesmos ruídos e imagens, belos ou ruins que a minha janela proporciona. Correntes que se arrastam, veículos que transitam, vozes que falam e calam, mãos que agitam, brisa que voa, folha que cai, sol que ilumina, noite que chega e fica, assim, em mim.

3 comentários:

Osc@r Luiz disse...

Querida, quando for à janela e vir o que lhe agrada, desfrute ao máximo. Mas quando não lhe convier e o céu estiver cinzento, simplesmente a feche e mentalize as lembranças do céu azul que tantas vezes te fez feliz!
É por isso que as janelas tem venezianas; para que possa fechá-las quando o que vê não lhe é agradável.
Beijos!

A Jana e o Ti disse...

Gosto de ficar ao ar livre. Costumava ir muito para uma praça que existe aqui em BH - a Praça do Papa - num dos pontos mais altos da cidade. E, de lá, tem-se uma visão incrível... passava horas a olhar pro nada e a pensar sobre tudo... a sentir, perceber tudo o que a vida tem de bonito, a pensar e repensar num aproblema ou numa dor, até que diminuísse... janela da alma...
bjos!
PS: o texto de baixo tb é lindo!

Pena disse...

Simpática Amiga Luciana:
Hoje, acredito na beleza da companhia que lhe faz a sua linda janela. A Luciana parece falar com os sons, os instantes e as sensações boas ou más que ela lhe comunica com realidade ou sonhadas em si e nela. Como deve ser linda a sua janela? Por vezes, falo com as minhas paredes, os meus móveis, tudo o que encontro inanimado, que surge e me abraça como por encanto, por magia, para me fazer companhia. À noite sente-se mais. No fundo, a solidão dos pensamentos faz-nos companhia e abraça-nos respeitosamente, com deleite e amparo carinhoso.
Adorei a sua narrativa expressa. Com estima Beijos
Pena

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